quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Nova Era do Gelo
Sabe-se que é costume distinguir a ecologia científica da ecologia política; a primeira pratica-se nos laboratórios e nas expedições de campo; a segunda, nos movimentos militantes e no Parlamento. Trata-se de ao menos duas grandes correntes de pensamento envolvidas no debate: (1) há o discurso dos defensores da ideia de que o aquecimento global é produto da sociedade urbano-industrial, cuja matriz energética, baseada nos combustíveis fósseis, ocasiona enorme transformação na paisagem, da qual a maior evidência é a emissão de gases do efeito estufa responsável pelo aumento da temperatura; no campo oposto (2), defende-se que o aquecimento verificado no último século é fruto da variabilidade natural, determinada por ciclos de vários processos terrestres e cósmicos, principalmente do sol. Nesta perspectiva, estaríamos na fase final interglacial, próximos a uma nova era do gelo.
É certo que a primeira corrente de pensamento descrita nos é mais familiar do que essa outra que pressupõe que nem todas as mudanças do espaço concreto decorram da intervenção humana; quando o são, ainda assim, é possível analisar seus efeitos sobre o próprio meio ‘natural’, além, obviamente, do ‘meio social’. O ‘ceticismo dos críticos’ advém desta hipótese: ainda que a sociedade seja capaz de modificar drasticamente o clima nas escalas locais e de influenciá-lo em escalas regionais, nas escalas superiores, ou globais, as forças físicas envolvidas no processo de mudanças são tão extraordinariamente poderosas que não há como compará-las às de origem antrópica.
Sustenta-se que qualquer pequena modificação na emissão de radiação do Sol afeta de forma muito mais contundente do que qualquer grande ação que a sociedade possa provocar. Algo em torno de dez erupções vulcânicas da magnitude do Pinatubo, do El Chicón ou do Monte Agung pode lançar para a atmosfera maior quantidade de partículas e gases (material piroclástico) do que a sociedade urbano-industrial conseguiu emitir em todo o século XX (Sant’Anna Neto, 2008). Phil Jones detectou, por exemplo, desvios não-lineares nas médias da temperatura global do ar, que subiu 0,37ºC entre 1920 e 1945, diminuiu 0,14ºC entre 1945 e 1978 e voltou a subir entre 1978 e 1999 (0, 32ºC). Para Jones esses desvios podem ser explicados por várias perspectivas. Segundo ele, há diversas variáveis envolvidas, como a diminuição do albedo planetário pela fraca atividade vulcânica na primeira metade do século, ou, ainda, a influência urbana nos dados meteorológicos das estações nas últimas décadas. Mudanças climáticas são, portanto, particularmente frequentes na história geoecológica da Terra. Desde a formação do planeta, sistematicamente o padrão do clima tem mudado de forma mais suave ou mais intensa, em função de um complexo conjunto de fatores. Isso determina novas combinações dos processos físicos da natureza, como a intensidade da radiação solar e a combinação de forçantes orbitais.
Seria mais prudente acreditar na complementaridade entre os processos naturais e os processos sociais como basilares da problemática das mudanças climáticas, e não apostar em sua contradição. Pouco importa saber o percentual da participação humana no processo; importa reduzir, urgentemente, o máximo possível a degradação das bases naturais da vida no planeta. As mudanças climáticas globais e sua manifestação mais preocupante apontam para alterações tanto negativas quanto positivas das paisagens e das condições de vida dos homens na superfície do planeta. As alterações negativas são as mais importantes. Permite-se, ainda, a extrapolação de metodologias que tenham como fundamento a análise da inter-relação dos componentes do meio ambiente natural. O aspecto mais interessante é a possibilidade de integrar o homem ao meio, sem estabelecer a relação de causa e efeito sobre aquele. Embora aparentem características fortemente ecológicas, os estudos ambientais vão além e possibilitam verificar o reverso, ou seja, como essas mudanças no meio ambiente natural afetam o homem, em especial no que se refere a seu espaço produzido. Trata-se de um discurso ambiental sobre o meio ambiente distinto de um discurso ecológico sobre o ecossistema, cujas características se seguem:
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário